A injustiça no Brasil não seria perfeita se apenas absolvesse
grandes empresários e políticos poderosos flagrados em conversas altamente
comprometedoras e com indícios claros de atos ilegais. Ela jamais se daria por
satisfeita com a impunidade à luz do dia, servida de bandeja e temperada com
elogios rasgados a quem ameaça matar delatores. Nesse mundo de uma injustiça
que a cada dia se afirma soberana, é necessário, ainda, que as decisões e
sentenças contra adversários políticos do sistema sejam baseadas apenas em
convicções e delações obtidas sob uma pressão semelhante a tortura.
Nesse mundo, todo o sistema jurídico vai se transformando em
um instrumento radicalmente iníquo da política: seu braço direito, que, junto
com o dos meios de comunicação, tende a esmagar a possibilidade de um mundo
melhor.
Nenhum político foi tão radicalmente investigado, e por tanto
tempo, quanto Luiz Inácio Lula da Silva, e não por acaso isso se liga ao fato
de ter saído de seu segundo mandato presidencial com quase 90% de aprovação
popular. Como já se disse à exaustão, este é o verdadeiro “crime” deste grande
estadista. Sentenciá-lo significa a celebração da lei do mais forte, da auto-afirmação
de um sistema que já não precisa esconder sua predileção por A ou por B. — Não
bastaria aparecer aos sorrisos com Aécio Neves, nem participar de festas e
eventos promovidos por membros do PSDB: Sérgio Moro precisava condenar sem
provas materiais o inimigo político número 1 daquele grupo com o qual se
confraternizou abertamente tantas vezes.
Somente quando um sistema jurídico não precisa mais
justificar de forma cabal suas sentenças, podendo prescindir da materialidade
das provas e se basear tão-somente em delações não comprovadas, somente aí é
que esta máquina se sente convicta o bastante para ser um tentáculo das forças
políticas que tentam estrangular as forças progressistas.
Claro está, porém, que o objetivo não é propriamente prender
Lula, pois Sérgio Moro sabe perfeitamente de sua inocência, tal como todas e
todos votantes a favor do impeachment de Dilma também atestavam sua
honestidade. O texto final poderia ser apenas este: “condeno Lula a não se
candidatar à presidência”. De forma análoga a como as senadoras e os senadores
mantiveram os direitos políticos de Dilma, pois a única coisa que interessava
era tirá-la do poder, da mesma forma Sérgio Moro poderia dizer que não condena
Lula à prisão: trata-se de imputar uma “culpa” apenas até onde interessa ao
braço jurídico do sistema político da direita brasileira.
Por fim, a injustiça em nosso país não seria perfeita se não
cumprisse um ritual perverso, condenando Lula um dia após condenar todas as
trabalhadoras e todos os trabalhadores assalariados no Brasil a uma perda
radical de seus direitos: essa é a trajetória de nossa (in)justiça, esse é o
percurso de um mundo neoliberal, que cassa direitos, que “libera” a todas e
todos da base da pirâmide social a serem objeto do mais aviltante arbítrio e
exploração predatória sistemática.
Um comentário:
E o mais absurdo é ver muiiitos pobres comemorando todo o caos político! Pareçe q ainda não saimos dos tempos (neo)coloniais, onde o oprimido apalude o seu opressor!
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