A Folha de São Paulo subiu mais um degrau em seu cinismo, e
dessa vez bem alto. Um dia depois de revelar uma pesquisa em que Lula aparece
com 35% das intenções de votos, apresenta outra mostrando que a maioria da
população quer Lula preso. — Naturalmente, esse veículo de comunicação
precisava de um antídoto para o impressionante crescimento eleitoral de Lula,
apesar da metralhadora político-judicial apontada para ele todo dia, mas não se
esperava que este remédio fosse tão baixo, tão mesquinho e tão
anti-jornalístico.
Se sempre houve pesquisa de “intenções de voto”, agora a
Folha de São Paulo produziu uma de “intenções de prender”. Ora, a prisão de
qualquer pessoa somente pode ser concebida a partir da objetividade dos fatos,
da processualidade penal, da observância estrita da lei e sua complexidade, com
seus recursos, apresentação do contraditório etc. É um absurdo sem tamanho esse
jornal anunciar para todo o país uma pesquisa com as “opiniões” de milhões de
pessoas que não são incumbidas da análise concreta dos indícios de acusação e
defesa. Isso significou conferir uma objetividade social a um “achismo” dos
mais baixos, pois claramente insuflado pela propaganda contrária a Lula, uma
verdadeira avalanche midiática que não passa um dia sem ser exercida
ferozmente. Montou-se uma espécie de “tribunal popular” como se fosse algo
simples, passível de exposição corriqueira como se objeto de “opinião” fosse a
troca do comando da seleção brasileira de futebol.
Este procedimento demarca de forma exemplar o quanto a
cultura de massa se serve de relações miméticas, de imitação, de relação
especular entre imagem e mentalidade, entre espetáculo e vida real, pois as
opiniões populares refletem a animosidade dos donos do poder a Lula e agora a
Folha de São Paulo mimetiza como notícia o que a mentalidade pública mimetizou
de seus discursos. Não é difícil perceber a força deste círculo vicioso que
tende a se reforçar continuamente, pois todas e todos fazem parte de um grande
mecanismo de legitimação recíproca, retro-alimentada, em que ninguém se sente
sozinho, mas pelo contrário: o preconceito mais mesquinho, o achismo mais tosco
deixará aquele canto sombrio da mente e ganhará a luminosidade de uma manchete
de primeira página daquele que já foi tomado como “o jornal mais respeitado do
país”.
A pergunta que resta é: a Folha de São Paulo chegou ao fundo
do poço ético em seu empreendimento de aniquilar Lula politicamente? Ou ainda
escavará mais?
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