O colunista da revista IstoÉ, Mario Vitor Rodrigues, escreveu um artigo em seu
blog intitulado “Lula deve morrer”. Tanto nas frases quanto nos parágrafos
seguintes esta ideia estapafúrdia é repetida, e justificada por meio de todos os
clichês que a grande imprensa usa para demonizar o PT como organização
criminosa. Tal como em todas as outras vezes, tudo é falado como verdade
absoluta, negligenciando completamente o quanto toda essa percepção é
francamente manipulada pela indignação seletiva e pelas verdades parciais
traduzidas à tona de forma imediatista — sem contar o apoio absurdo nas
atitudes partidarizadas do judiciário.
Somente depois de a expressão “Lula deve morrer” ser
empregada diversas vezes é que vemos que se trata de uma metáfora: a morte deve
ser política. Um recurso cínico, canalha e desonesto do ponto de vista de um
jornalismo responsável. Excita-se, estimula-se, provoca-se a leitura literal de
que se trata da morte do indivíduo, tanto no título quanto no resumo do texto,
para então, somente depois de municiar o ódio com esta abertura escandalosa de
incitação a uma agressão ao ser humano, dizer que se trata tão-somente de uma
figura de linguagem.
Este artigo reproduz em seu interior, de uma vez só, a velha
e abjeta estratégia de toda a grande imprensa: noticiar de forma espalhafatosa
com manchetes de primeira página uma acusação gravíssima contra seus opositores
políticos para, alguns dias ou semanas depois, escrever um “erramos” no rodapé
da página 5, mostrando o quanto o conteúdo da notícia original não procede,
precisa ser relativizado, apresenta vários outros dados etc. Somos jogados de
um fato ao outro, de uma expressão linguística a outra, de uma imagem a outra,
e nessa medida os afetos políticos são exaltados, reprimidos, deslocados,
retirando de cena toda a busca pela objetividade, todo o exercício em uma
atitude sóbria de valoração das propostas políticas, das atitudes de nossos
representantes. Pior até mesmo do que essas verdades parciais e as honras que
são demolidas sob o império das manchetes de primeira página e das capas de
revistas sensacionalistas é a incitação continua de nos movermos pelo afeto
imediato, pelo apoio inconsequente de nossas ações e julgamentos no que nos é
servido de bandeja nesses drops de notícias, opiniões e flashes televisivos.
Este jornalismo precisa morrer. Ele precisa ser posto sob a
ótica da busca da objetividade. Este colunista da revista IstoÉ merece todo o
nosso repúdio, toda a nossa indignação. Merece ser execrado publicamente como
exemplo paradigmático de como não se deve transformar um adversário político em
um inimigo de guerra. O cinismo com que excita o desejo de morte a seu
adversário mereceria ser a certidão de óbito de sua atuação profissional como
jornalista, a não ser sob a condição de se retratar clara e explicitamente. A manipulação hedionda
que vimos agora, por si, seria suficiente para colocar sob suspeição qualquer outra linha a
ser escrita por ele.
Caso esta revista tenha algum brio, preze por algum
orgulho de circular pelas bancas, consultórios e bibliotecas do país, deve
despedir imediatamente esta figura, a bem do nosso jornalismo, que merece viver enquanto sustente um mínimo de respeito à dignidade humana, ao adversário como o
diferente que merece e precisa existir para que continuemos a chamar o nosso
espaço em comum de democracia, mais: de humanidade.
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